
Este artigo visa fornecer uma visão abrangente sobre o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em crianças e adolescentes.
No Brasil estima-se que afete cerca de 13% da população.
Abordaremos desde a definição e prevalência do transtorno até suas causas, diagnóstico, impacto no desenvolvimento e as diversas opções de tratamento disponíveis.
Nosso objetivo é oferecer informações detalhadas, promovendo melhor compreensão e manejo do TDAH, procurando contribuir para o bem-estar e sucesso das crianças e jovens.
Abordaremos :
Quais as causas e fatores de risco do TDAH ?
Quais são os critérios e avaliações para o diagnóstico do TDAH?
Qual é o impacto do TDAH na vida acadêmica ?
Como são as relações sociais e o TDAH ?
Quais são as abordagens não farmacológicas para o TDAH?
Quais os tratamentos farmacológicos para o TDAH ?
Quais os desafios e perspectivas para o TDAH na adolescência?
O TDAH Desaparece?

Dra. Maria José de Souza
Médica Especialista em Pediatria e Homeopatia
Pós Graduada em Transtornos do Neurodesenvolvimento
1- Quais as causas e fatores de risco do TDAH ?
As causas exatas do TDAH ainda não são totalmente compreendidas, mas sabe-se que o transtorno é multifatorial, envolvendo uma combinação complexa de fatores genéticos, neurobiológicos e ambientais.

1.1 Fatores Genéticos:
A hereditariedade desempenha um papel significativo no TDAH. Estudos indicam que o transtorno tem uma herdabilidade de 70% a 80%, o que significa que a predisposição genética é um dos principais contribuintes.
Crianças e adolescentes com histórico familiar de TDAH, depressão, ansiedade ou outros transtornos mentais têm maior probabilidade de desenvolver o transtorno.
1.2 Fatores neurobiologicos do TDAH:
Pesquisas têm demonstrado diferenças estruturais e funcionais no cérebro de indivíduos com TDAH.
As áreas cerebrais mais frequentemente envolvidas:




1.3Fatores Ambientais:
Exposição a certos fatores ambientais durante a gravidez e a infância pode aumentar o risco de TDAH.
Esses fatores incluem:

Embora esses fatores possam aumentar o risco, eles não são a única causa do TDAH.
É importante ressaltar que o TDAH não é causado por:

Embora esses fatores possam influenciar a gravidade dos sintomas, eles não são a causa primária do transtorno.
Refutar crenças infundadas e promover uma compreensão baseada em evidências científicas é fundamental para reduzir o estigma e garantir que crianças e adolescentes com TDAH recebam o apoio e tratamento adequados.
2 – Quais são os critérios e avaliações para o diagnóstico do TDAH ?
O diagnóstico do TDAH é um processo complexo que envolve a avaliação de diversos aspectos do comportamento e do funcionamento da criança ou adolescente.
Não existe um teste único que possa confirmar o diagnóstico, sendo necessária uma abordagem abrangente e multidisciplinar.

2.1 Critérios Diagnósticos do TDAH conforme DSM-5:
Os critérios se dividem em duas categorias principais:

Sinais e Sintomas do TDAH em Crianças
Identificar os sinais do TDAH pode ser desafiador, pois muitos comportamentos podem parecer comuns na infância.
A diferença está na intensidade, frequência e impacto desses comportamentos na vida da criança.
Os sintomas geralmente aparecem antes dos 12 anos e devem estar presentes em pelo menos dois ambientes diferentes (como casa e escola) por um período mínimo de seis meses.



Os sintomas devem ser suficientemente graves para causar prejuízo significativo no funcionamento:
- social,

- acadêmico,

- ocupacional.

2.2 Processo de Avaliação Diagnóstica do TDAH :
Geralmente envolve uma entrevista clínica detalhada com os pais e a criança ou adolescente.
Na entrevista, com o profissional de saúde (geralmente um médico especializado, psicólogo ou neuropsicólogo) serão coletadas informações sobre:

2.3 Escalas de Avaliação Comportamental do TDAH :
São questionários padronizados que ajudam a quantificar e avaliar a frequência e a gravidade dos sintomas do TDAH.
As escalas são preenchidas pelos pais, professores e, em alguns casos, pela própria criança ou adolescente.
Exemplos de escalas utilizadas incluem o SNAP-IV e o Conners.

A escala de Conners realiza uma análise em diferentes aspectos, como os seguintes:
- Ansiedade
- Impulsividade
- Hiperatividade
- função executiva
- Indulgência emocional
- Problemas de comportamento
- Problemas de aprendizagem
- Relações com os colegas
Embora as escalas de avaliação comportamental sejam úteis, elas não devem ser utilizadas isoladamente para diagnosticar o TDAH. Elas servem como uma ferramenta complementar para auxiliar no processo de avaliação.
2.4 Avaliação Neuropsicológica do TDAH :
Utilizada para avaliar as funções executivas, atenção, memória e outras habilidades cognitivas.
Nem todas as crianças e adolescentes com suspeita de TDAH necessitam de avaliação neuropsicológica.

Um diagnóstico preciso é fundamental para um tratamento adequado.
Por isso, evite diagnósticos baseados em informações da internet ou opiniões não especializadas.
O processo diagnóstico pode levar tempo, pois requer múltiplas avaliações e observações em diferentes contextos.
Lembre-se que um diagnóstico precoce e preciso permite intervenções mais eficazes, minimizando o impacto do transtorno no desenvolvimento da criança.
2.5 Diagnóstico Diferencial do TDAH :
Fundamental excluir outras condições que podem simular os sintomas do TDAH, como:

Um diagnóstico diferencial cuidadoso é essencial para garantir que a criança ou adolescente receba o tratamento mais adequado.
2.6 TDAH e Comorbidades
O TDAH raramente ocorre sozinho.
Cerca de 60-70% das crianças com TDAH apresentam pelo menos uma condição coexistente, conhecida como comorbidade.
Entender estas comorbidades é essencial para um tratamento eficaz e abrangente.
Transtornos de Humor

- Depressão (ocorre em 20-30% dos casos)
- Transtorno Bipolar (até 10% dos casos)
Sinais: Tristeza persistente, irritabilidade, alterações no sono e apetite, perda de interesse em atividades antes prazerosas.
Transtornos de Aprendizagem

- Dislexia ( 15-30% dos casos)
- Discalculia
- Transtornos da Linguagem
Sinais : Dificuldades especificas na leitura, escrita ou matemática, mesmo com inteligência normal ou acima da média.
Transtornos de Ansiedade

- Ansiedade Generalizada ( 25-35 % dos casos)
- Transtorno Obsessivo – Compulsivo
- Fobias Específicas
Sinais: Preocupação excessiva, medos intensos, comportamentos perfeccionistas, sintomas físicos como dores de cabeça ou estômago.
Transtornos de Comportamento

- Transtorno Opositivo Desafiador (30-50% dos casos)
- Transtorno de Conduta (10-20% dos casos)
Sinais: Comportamento desafiador, recusa em seguir regras, explosões de raiva, agressividade, problemas com autoridade.
Como Identificar Comorbidades
Identificar comorbidades pode ser desafiador, pois os sintomas muitas vezes se sobrepõem aos do TDAH. Esteja atento se seu filho apresentar:

Importância do Diagnóstico Completo

Um diagnóstico abrangente que identifica o TDAH e suas comorbidades é essencial porque:

Se você suspeita que seu filho possa ter alguma condição além do TDAH, é importante discutir suas preocupações.
Uma avaliação multidisciplinar pode ser necessária para identificar todas as condições presentes e desenvolver um plano de tratamento integrado.
O tratamento de crianças com TDAH e comorbidades geralmente requer uma abordagem mais complexa, combinando medicação específica, diferentes tipos de terapia e intervenções educacionais.

A boa notícia é que com o diagnóstico correto e tratamento adequado, as crianças podem apresentar melhorias significativas em todos os aspectos afetados.
Lembre-se que cada criança é única, e o plano de tratamento deve ser personalizado para atender às necessidades específicas do seu filho.
3- Qual é o impacto do TDAH na vida acadêmica ?

O TDAH pode ter um impacto significativo na vida acadêmica de crianças e adolescentes, afetando:
As dificuldades de atenção, hiperatividade e impulsividade podem tornar o ambiente escolar um desafio constante.
Principais aspectos do impacto do TDAH na vida acadêmica:

- Dificuldades de Aprendizagem
Com maior probabilidade de:
- dislexia (dificuldade na leitura)
- disgrafia (dificuldade na escrita)
- discalculia (dificuldade na matemática).

Podem estar relacionadas às dificuldades de atenção, memória e processamento de informações.
- Problemas de Atenção e Concentração em Sala de Aula
É um dos principais sintomas do TDAH.
Crianças e adolescentes com TDAH e podem ter:
- dificuldade em seguir instruções,
- completar tarefas
- organizar materiais
- evitar distrações.

Isso pode levar a um baixo desempenho escolar e notas abaixo do esperado.
- Comportamentos Disruptivos
A hiperatividade e a impulsividade podem levar a comportamentos disruptivos em sala de aula:
- levantar-se da cadeira
- falar excessivamente
- interromper colegas e professores
- dificuldade em esperar a vez.

Esses comportamentos podem interferir no aprendizado do próprio aluno e de seus colegas, e podem levar a conflitos com professores e outros alunos.
- Estratégias de Intervenção no Ambiente Escolar
Podem ser implementadas no ambiente escolar para ajudar crianças e adolescentes com TDAH a terem sucesso acadêmico:
- adaptações curriculares (como tempo extra para completar tarefas e provas)
- suporte individualizado (como tutoria e acompanhamento psicopedagógico)
- programas de manejo comportamental (como sistemas de recompensas e consequências)
- modificações no ambiente físico (como redução de distrações).

Legislação e Direitos dos Alunos com TDAH:
A legislação brasileira garante o direito à educação inclusiva e equitativa para todos os alunos, incluindo aqueles com TDAH.
As escolas são obrigadas a oferecer adaptações e suporte adequados para atender às necessidades individuais dos alunos com TDAH.
Os pais têm o direito de participar do planejamento educacional de seus filhos e de garantir que seus direitos sejam respeitados.
4 – Como são as relações sociais e o TDAH ?
Dificuldades na Interação Social:

Crianças e adolescentes com TDAH podem ter dificuldade em:
- iniciar e manter conversas,
- respeitar a vez de falar,
- compartilhar brinquedos e pertences,
- compreender as emoções e perspectivas dos outros.
Podem ser vistos como intrusivos irritantes ou desajeitados socialmente.
4.1 Impulsividade e Agressividade:

A impulsividade pode levar a comportamentos agressivos, tanto verbais quanto físicos.
Crianças e adolescentes com TDAH podem ter dificuldade em controlar seus impulsos e podem reagir de forma explosiva em situações de frustração ou raiva.
Isso pode prejudicar suas relações interpessoais e aumentar o risco de bullying e isolamento social.
4.2 Regulação Emocional:
Crianças e adolescentes com TDAH podem ter dificuldade em lidar com:

Eles podem ser mais propensos a explosões emocionais, mudanças de humor e irritabilidade.
4.3 Intervenções para Melhorar as Habilidades Sociais
Diversas intervenções podem ajudar crianças e adolescentes com TDAH a melhorar suas habilidades sociais.
Treinamento de habilidades sociais ensina habilidades específicas, como:

Terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode ajudar a modificar pensamentos e comportamentos disfuncionais que interferem nas relações sociais.
Pais e cuidadores desempenham um papel fundamental no apoio social de crianças e adolescentes com TDAH.

Podem fornecer:

5 – Quais são as abordagens não farmacológicas para o TDAH?
Visam modificar: pensamentos e comportamentos disfuncionais, melhorar o autocontrole e a organização, fortalecer o vínculo familiar e promover o bem-estar emocional.
- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC):

- Treinamento de Pais:

- Intervenções Psicossociais:

- Técnicas de Mindfulness e Meditação:

- Nutrição e TDAH:

6 – Quais os tratamentos farmacológicos para o TDAH ?

Uma das principais opções para o manejo do TDAH em crianças e adolescentes.
Os medicamentos podem ajudar a reduzir os sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, melhorando o funcionamento acadêmico, social e emocional.
É importante ressaltar que o tratamento farmacológico deve ser individualizado e supervisionado por um médico especialista.
6.1 Medicamentos Estimulantes:
São os mais comumente prescritos para o TDAH.
Aumentam os níveis de dopamina e noradrenalina no cérebro, o que melhora a atenção, a concentração e o controle dos impulsos.
Em geral, os medicamentos estimulantes são considerados seguros e eficazes quando utilizados sob supervisão médica.
6.2 Medicamentos Não Estimulantes:
São uma alternativa para pacientes que não toleram ou não respondem aos estimulantes.
Os medicamentos não estimulantes podem levar mais tempo para fazer efeito do que os estimulantes.
6.3 Monitoramento do Tratamento:

É fundamental que o tratamento farmacológico seja monitorado regularmente por um pediatra especializado em TDAH, neuropediatra ou psiquiatra infantil.
Estes profissionais irão avaliar a resposta terapêutica, ajustar as doses dos medicamentos e monitorar os efeitos colaterais.
Os pais e a criança ou adolescente devem comunicar ao médico quaisquer efeitos colaterais ou preocupações.
6.4 Mitos e Verdades sobre o Uso de Medicamentos para TDAH:
Existem muitos mitos e equívocos sobre o uso de medicamentos para TDAH.
É importante buscar informações baseadas em evidências científicas e conversar com um pediatra especializado em TDAH, neuropediatra ou psiquiatra infantil, para esclarecer dúvidas e tomar decisões informadas.
Os medicamentos para TDAH não são uma “cura mágica”, mas podem ser uma ferramenta valiosa para ajudar a controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.
6.5 Abordagem Multimodal:
Considerada a mais eficaz para o tratamento do TDAH.
Envolve a combinação de tratamento farmacológico com outras intervenções, como terapia comportamental, treinamento de pais e adaptações escolares.
Aborda os múltiplos aspectos do TDAH e maximiza as chances de sucesso.
7 – Quais os desafios e perspectivas para o TDAH na adolescência?
O TDAH não é um transtorno que desaparece na adolescência ou vida adulta.
Embora a hiperatividade possa diminuir com a idade, a desatenção e a impulsividade geralmente persistem, causando desafios significativos no trabalho, nos relacionamentos, nas finanças e na saúde mental.
É importante que o diagnóstico e o tratamento continuem na adolescência e vida adulta para melhorar a qualidade de vida e reduzir o risco de complicações. A seguir, exploraremos os principais aspectos do TDAH na adolescência:
7.1 Mudanças na Apresentação dos Sintomas:

Na adolescência, a hiperatividade geralmente diminui, mas a desatenção e a impulsividade persistem.
Adolescentes e adultos com TDAH podem ter dificuldade em organizar tarefas, cumprir prazos, manter o foco em atividades prolongadas e controlar seus impulsos.
Eles podem ser mais propensos a procrastinação, desorganização e esquecimento.
7.2 Comorbidades:

A alta prevalência de transtornos de humor, ansiedade, uso de substâncias e outros problemas de saúde mental em adultos com TDAH é uma preocupação.
Importante que esses transtornos sejam diagnosticados e tratados adequadamente, pois eles podem exacerbar os sintomas do TDAH e prejudicar o funcionamento geral.
7.3 Estratégias de Enfrentamento:
O desenvolvimento de habilidades é fundamental para adultos com TDAH:

Essas habilidades podem ajudar a compensar as dificuldades de atenção e impulsividade, e a melhorar o funcionamento no trabalho, nos relacionamentos e nas finanças.
7.4 Importância do Diagnóstico e Tratamento Contínuo:

8- O TDAH Desaparece?
O TDAH não é uma condição que a criança simplesmente “supera” com o tempo.
No entanto, a forma como ele se manifesta e seu impacto podem mudar significativamente ao longo do desenvolvimento.
Pesquisas indicam que:



Dra. Maria José de Souza
Médica Especialista em Pediatria e Homeopatia
Pós Graduada em Transtornos do Neurodesenvolvimento